Após receber um bafo do carro de detetização contra dengue, segui para meu destino em quatro rodas: o pituba r1. O que aconteceu nesse motorizado vermelho e azul pode ter sido apenas imaginação, ou, em contra partida, o mais forte exemplo da onipotência dos ônibus de Salvador, preferencialmente os que possuem bus tv. Afirmo de antemão que agora acredito na declaração de Claudia Leitttte, o bus tv é pra gente que pensa.
Dias atrás eu li uma declaração muito boa de Campos de Carvalho, "cada um tem o Marx que merece." e essa frase ecoou na minha mente até o momento em que, no bus tv, passa um documentário sobre os irmãos marx, pra meu doce deleite. Adoro Groucho Marx e seu programa de auditório. Conhecer a história dos irmãos, ni ônibus, é demais. Pensei comigo: "o detetizador está fazendo efeito."
Logo depois, me sinto como na Grécia Antiga, andando naquelas ruas coloridas e vendo sem querer uma palestra ao ar livre de Platão, que estava de gueri com uns iniciados, debaixo de uma frutífera. O Platão, no meu caso, que estava sentado no banco do ônibus, era o cobrador e o iniciado era uma senhorita toda grande. Eis o diálogo:
- Quando eu fiquei grávida, menino, foi uma emoção. Meu marido assumiu a criança, ai quando fui fazer o teste e vi as duas listrinhas coloridas, eu morri.
- hum..
- E ai veio aquela fase dos desejos. (ela passava a mão no cabelo preso). Quando eu sentia cheiro de milho cozido, eu salivava. Aqueles outros desejos também, ai..
-hummm!
- Mas sabe como é né, comecei a comer feito louca, e cê sabe, eu tenho quadrilzão, sou alta, fiquei toda grande.
- um barril né?
- éééé... é!
>-\o
Eis o conhecimento latente, violento e certeiro. Enquanto essa pérola foi desferida, eu fiquei fora de si. Obviamente nessa hora, no bus tv, rolava um outro documentário, dessa vez sobre o muzenza.
O diálogo entre eles ficou mais baixo e distante, provavelmente começaram a falar grego e dei conta de que eu não era iniciado. A partir daquela revelação do cobrador, a conversa não mais me pertencia, senti vergonha, levantei e saltei. Se a culpa é do detetizador, os mosquitos da dengue morrem felizes.