Parábola II

Corro por longos corredores de uma casa verde. Motivação? O frenético desejo de um cachorro por minhas batatas. De tão inevitável, as salas alongavam, os quartos faziam curva, os pátios internos afloravam quilômetros de mata atlântica: só pra me fazer correr mais, pro cão desejar mais, numa perseguição merecida.

Distância de um pulo para o momento da mordida. Escorrego. Em cinco segundos consigo ver dentes saltitantes, rabo no ar e um peixe morto caindo no chão. O cão virou peixe. Minha batata sorriu.

Falo pra ela:
-Oi, sonhei que seu cachorro tava querendo me morder e na hora do pulo, caiu como um peixe morto.
-Você teve um sonho premonitório do passado. Meu cachorro se afogou na piscina.

2 comentários:

Franklin Marques disse...

Excelente... Me lembrou os russos.

Manuel Sá disse...

Quais russos, Mr Frank?