parábola

rasante na sua frente, por todos os lados, eles nunca temem riscar o ar. meio kamikaze, porque é sem saber. é de chamar atenção quando um pássaro passa perto de carros parados ou em movimento. bandos.

um pássaro desliza no asfalto

dois pássaros cruzando a rua, nunca entendi porque eles fazem isso. tem tanto ar, tão pouca terra. mas pareciam hipnotizados pela parábola, um atrás do outro. pista de velocidade, carro vermelho arrasante.

um dos pássaros desliza no asfalto. e me deu a impressão que ele não morreu, logo, também não viveu da mesma forma como estamos acostumados. E me deu uma pontada, eu morri. pra ele, um canto de asfalto, num desses canteiros esquecidos e o vermelho pra sempre. lembro de um amigo que deixou o passáro no sol amarelo preguiçoso da cozinha. uma oferenda esquecida e todas as contradições que isso implica. quem morreu foi meu amigo. seu pássaro viu apenas o amarelo. e qualquer cor mais, todas as nossas, daquelas que pássaros carregam nas penas, de fazer inveja a qualquer Picasso. Pra eles, as cores. Pra nós, a morte e a inveja.

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