Folhas de Pitanga

Conversando com minha mãe, descobri algo que me deixou feliz a respeito de natais passados nas cidades do interior da Bahia. Em várias casas, aquelas com chão vermelho escuro batido, era costume espalhar folhas de pitanga nos corredores, na sala e nos outros cômodos. Eu fico imaginando o cheiro e como devia ser delicioso andar arrastando folhas pelo chão, além de vê-las.

É até uma tentação lamentar esse costume perdido e fazer uma comparação com árvores de plástico com neve de plástico que vendem e compram com cartões de plástico por ai, envolvidas por um pisca-pisca com musiquinha irriante, mas lamentação geralmente soa como um solo de violino chorão e realmente isso quebra qualquer possibilidade de um bom lamento, exceto no cinema. (Deve ser por isso que uma pesquisa da Universidade Heriot-Watt de Edimburgo, na Escócia, afirma que comédias românticas, com aqueles finais felizes, atrapalham os relacionamentos alheios. Onde já se viu um violino triste, na cena do mocinho incompreendido, deixar tudo mais triste, no nosso mundo?).

Pessoalmente não tenho nada contra pisca-piscas, na verdade eu gosto deles tanto em casas quanto nas ruas, mas a musiquinha que faz a alegria de algumas tias e vovós é uma verdadeira falta de ave maria. Talvez fosse muito mais lúdico um natal com folhas de pitanga e pisca-piscas silenciosos no chão. Cheiros, luzes e quem sabe até uma fogueira pra queimar os cds de natal de Simone, afinal ela sim é responsável pelo fim do espírito natalino cristão no mundo contemporâneo.

2 comentários:

Wagner Pyter disse...

as vezes vontade de comer é melhor do que de ver. sentir o cheiro antes de degustar e continuar apreciando depois de ter visto sumir..

Bobbie Ladyamnesia disse...

meus natais de infância tinham galhos nevados com algodão, presépio detalhado, que eu construía com os santos da minha e da minha vó [com a colaboração dos meus brinquedos] e, vez por outra, folhas pitangas pelo chão. era dia de usar roupa nova e ganhar um brinquedo que não era exatamente o que eu desejava, mas era aceito como tal. eu ainda tinha espírito natalino e acreditava num futuro de grandes realizações...

quando simone lançou aquele cd maldito [que deve ser do tipo se tocado ao contrário revela o lado satanista da parada] eu, que já havia perdido a fé, passei a odiar o natal e a sentir uma espécie de comichão destruidora ao entrar em qualquer estabelecimento comercial durante o mês de dezembro.

ps.: embora eu nem tenha nascido ou vivido no interior minha infância era um "como se fosse".